27 out, 2023 | Antonio Martins | Sem comentários
153 ANOS DE EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DE QUIXADÁ, A PRINCESINHA DO SERTÃO
Descortinou-se o alvorar do dia 27 de outubro de 2023 e a cronologia histórica, mais uma vez, me convidava para revisitar o solo da terra que me gerou. A Princesinha do Sertão, minha Quixadá: terra dos altares, dos andores, dos mártires, dos agricultores, dos operários, dos amores, dos santos e dos doutores completa, hoje, 153 anos de emancipação política e Eu, como viajor em teus feitos históricos amealhados, circulava pelos labirintos e corredores monolíticos – os verdadeiros palcos de tua saga épica e gloriosa.
Durante a caminhada Eu admirava a Pedra do Cruzeiro, o sacrário onde pulsa teu coração, ó, Quixadá! E do topo da elevação, contemplava as estradas que te ligam às regiões. Quantas saudades dos trilhos da antiga estrada de ferro; da movimentação da velha estação ferroviária; de seu galpão e do entorno, incluindo o Hotel Nossa Senhora de Fátima, abrigo de transeuntes locais e de estrangeiros; a Praça da Estação e o Monumento erguido, por Jacinto de Sousa, homenageando o trabalhador.
Enquanto a brisa matutina tocava meu rosto, Eu seguia para a Praça da Cultura e me deleitava com o imponente Chalé da Pedra. Dali, avistava a majestosa Serra do Urucum e o Santuário Mariano, imponente obra do visionário Bispo Diocesano Adélio Tomasin, onde o céu e a terra se abraçam, rememorando, pela fé, a aliança celebrada entre Deus e os homens.
Não me contentava diante de tuas grandezas e das belezas naturais. Logo, estava diante do Açude do Cedro e da Pedra da Galinha Choca, constatação de que a arquitetura natural e a arquitetura humana, podem compartilhar espaços, desde que a consciência política e social, não seja iníqua. Bem adiante, na linha do horizonte, a Serra do Estevão embrião da economia, fé, educação e progresso da região, o nascedouro do Rio Sitiá e do Riacho do Russinho.
Contemplo-te, ó, Quixadá! Enquanto cenário vivo que imortalizou, outrora, a saga do cotidiano sertanejo, nas cenas do cangaço, do coronelismo político, dantes e de agora. Terra em que a literatura te consagrou na cíclica peleja, em que teu solo feito arena coloca, no mesmo ato, a vida, os amores e a morte impiedosa, que a muito tem irrigado teu solo com sangue, lágrimas e dessabores.
Ponho-me genuflexo diante de ti, ó, torrão sofrido! Cenário inspirador de autores e poetas precursores que abriram caminhos por onde tua filha Rachel de Queiroz, Cego Aderaldo, Jáder de Carvalho com os demais contemporâneos e conterrâneos, enveredaram. Inspiração do cinema, do rádio, do jornal, da televisão, da arte escrita, do registro em fotos, talhas, lentes, viola, cordel e até em pincel; útero profícuo, que em letras gestou e inspirou “O Quinze”, passarela de feitos cinematográficos, imortalizados a partir de “A Morte Comanda o Cangaço”, “Curisco e Dadá” e tantos mais… Roteiro perene que alimenta o papel, a tinta e o “tec-tec” da velha máquina de escrever, dando forma à imaginação do autor, sem, contudo, se descuidar do moderno, abraçando as novas tecnologias. Quixadá, molde apoteótico, captado pelas lentes e revelado nas telas da arte, da televisão e do cinema.
Caatinga de teimosa esperança, por onde transitam, feito retirantes, os remanescentes moradores da fauna cearense, parecendo famílias inteirinhas desesperadas, se embrenhando na mata pouca, fugindo do machado, da caça, da broca, das queimadas, do agrotóxico e da poluição; uma verdadeira saga dos últimos sobreviventes fugitivos, nas veredas errantes do sertão!
Filha devotada ao divino, o sacrário em que Deus, seu filho Jesus Cristo e os pioneiros da urbe tornaram Jesus, Maria e José como seus padroeiros. Torrão nordestino, verdadeiro paradoxo, em que no verão os olhos, a lente e o pincel registram galhos secos, retorcidos, todos transformados em cenário, que remete à morte, à destruição e ao abandono, onde a vida, apesar de tudo, recebeu o alento do criador para teimar em viver.
Descampado que abre caminhos para o desfile frouxo do vento ligeiro, que feito redemoinho, alimenta o corrupio em pleno desfile, debaixo do sol escaldante do pingo do meio dia. Mas, também, uma criatura de fé e obediente aos céus, bastando que ao final de dezembro, para pegar o início de janeiro, a um simples regar do jardineiro celeste, cortando os céus com raios e trovões, precipitem vida em direção à terra, desfiando as nuvens, que se transformam em chuva, consolidando um milagre único, capaz de revestir de verde e dotando de vida, o que outrora estava moribundo.
Manancial de toda diversidade, acolhimento dos estrangeiros. Recanto encantado, terra hospitaleira, porto central, paragem de reconhecimento intergaláctico, cenário que até os “marcianos,” nunca deixaram de visitar. Cidade-progresso, berço da cultura, da arte e da literatura, de nome Quixadá.
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Crônica escrita em 27/10/2023 pelo Prof.: ANTÔNIO MARTINS de Almeida Filho, imortal da Academia Quixadaense de Letras – AQL – Cadeira 28, para homenagear Quixadá, pelos 153 anos de emancipação política.
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