27 out, 2020 | Antonio Martins | Sem comentários

Prefácio do Livro Saudades de Nossa Casa Amarela – da Escritora Maria das Graças Ferreira Lima

Terminara mais uma reunião da Academia Quixadaense de Letras – AQL e
estávamos, como costume, na área de circulação livre da agremiação, quando a professora Maria das Graças Ferreira Lima, escritora e confreira ocupante da cadeira 09 do colegiado, presenteou-me com um grande desafio, pediu-me para prefaciar seu novo livro, intitulado de “Boas Lembranças da Nossa Casa Amarela”.

Confesso! Fiquei lisonjeado pela deferência e honraria de tal quilate, contudo, desafiado pela responsabilidade. E naquele momento a memória me presenteava com lembranças da infância, o tempo em que minha família e a da escritora foram vizinhas e; talvez nem ela tivesse consciência disso, quando me lançou o desafio!

De súbito, descortinou-se diante de meus olhos, o que de melhor eu registrara na infância e, dentre elas as lembranças da “ Casa Amarela; “ uma edificação familiar encravada na Rua Paulo Soares Viana, 174, no bairro Campo Velho, em Quixadá – Ceará; um lar abençoado, objeto de desejo de toda família, para os padrões da época; casa de gente humilde, porém, honrada; o lugar onde, certamente, Deus escolheu habitar e; o imponente domicilio, além de outras residências em seu entorno, tinha como vizinha da frente, outra casa amarela, a Escola Benigno Bezerra.

Permiti-me viajar tomando como trilha os escritos da autora. Que viagem feliz, fui iluminado! Neles me reencontrei. Vi-me, novamente, menino! A conspiração divina tecera uma teia perfeita, em que eu, a professora Graça Ferreira e nossos familiares tivemos as vidas entrelaçadas. Partilhamos momentos diversos galgando, honrosamente, uma trajetória de vida; hoje somos membros da Academia Quixadaense de Letras, a “ Casa Luz de Quixadá. “ E eu estou laureado em prefaciar esta obra.

Os relatos se fazem necessários, para que o leitor compreenda o grande elo espacial e temporal que nos congrega. O lar descrito pela autora era uma edificação majestosa para os padrões da época; uma casa com fachada, por onde os invernos abundantes faziam jorrar das gárgulas, a água onde as crianças tomavam banho; o oitão fresco, paragem da criançada; as janelas da frente por onde se visualizava a sala de visita, sempre arrumada, com a máquina de costura ao canto, do outro o rádio onde a família ouvia as radionovelas; ali, todos os anos ficava embelezado com os enfeites de natal; a calçada alta, onde a família se juntava com a vizinhança, para papear, aguardando a passagem do  Aracati; os terreiros, sem fronteiras, por onde a criançada brincava sem os medos da modernidade.

Ler a obra da professora Graça Ferreira, intitulada de “Boas Lembranças da Nossa Casa Amarela” é, em tese, transitar por seu memorial de vida, é revisitar sua história. E, revisitar não somente as experiências da autora, mas a memória dos seus, dos que, ainda, caminham consigo e a dos que a precederam.

Quis o destino, que o menino franzino, que brincava pelos terreiros e calçadas da Rua Paulo Soares Viana, tivesse morado vizinho à casa da escritora. O menino se tornara testemunha ocular de experiências narradas na obra. Nossa rua era, em verdade, a passarela por onde, Graça Ferreira, uma jovem normalista transitava todos os dias, em busca dos saberes ministrados no Colégio Sagrado Coração de Jesus, no centro da próspera Quixadá; seu irmão Francisco Rilson, também estudante, não passava despercebido, trajando o fardamento escolar regiamente limpo e passado em ferro à brasa; as idas e vindas de seu pai, Sebastião, saindo e chegando, semanal ou quinzenalmente, para o trabalho, que se diversificava em locais distintos da região e; dona Senhorinha, a matriarca da família, saindo e chegando do trabalho, uma heroína que trajava a armadura do amor, era, em síntese, a coluna de sustentação familiar.

A obra nos revela um cotidiano de vida simples, quando a energia elétrica de Quixadá, ainda, era fornecida por motores; não havia água encanada nas residências, então, as famílias captavam o liquido nos chafarizes; a falta de água fazia, também, com que as roupas fossem lavadas nos tanques de pedras, com água captada no período chuvoso e; por fim, cuidadosamente, ela relata o cotidiano quase bucólico, em que as crianças brincavam.

Como se não bastasse, além de grandes lições dispostas na obra, a escritora, ainda, convida-nos a uma visitação histórica pela Queixada de outrora; incansavelmente, ela resgata jogos, adivinhações, brincadeiras, parlendas e um acervo de fotos históricas, revelando a evolução e os costumes da “ princesinha do sertão “.

À escritora e professora Maria das Graças Ferreira Lima, minha gratidão por compartilhar comigo este momento ímpar; novamente, o universo conspirou a nosso favor, oportunizou-nos este reencontro e nele a imortalização de mais uma obra da autora, o livro intitulado de “ Boas Lembranças da Nossa Casa Amarela. ”

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