26 out, 2020 | Antonio Martins | Sem comentários

Quixadá – Ceará, 150 Anos de Emancipação Política

Painel panorâmico do brasão e pontos turísticos de Quixadá - Ceará

SEJAM BEM VINDOS À PRINCESINHA DO SERTÃO, CIDADE-PROGRESSO,
POLO ACADÊMICO DO SERTÃO, BERÇO DA CULTURA, DA ARTE E DA LITERATURA, DE NOME QUIXADÁ.

Amanheceu, era 27 de outubro de 2020, o aniversário da princesinha do
sertão, o útero que me gerou, a pátria que me deu vida e me conferiu com os ensinos, projeção filial, social e profissional. Hoje, retorno ao teu seio, oh! Mãe que gerou vida no solo pedregoso, por entre os labirintos monolíticos do sertão. A ti serei sempre fiel, seja como servo, filho devotado ou herdeiro, de teu amor incondicional.

A máquina do tempo descortinou-se diante de meus olhos e eu pude
vislumbrar a grandeza de meu berço natal. Chegando ao cume da “ Pedra do Cruzeiro, “ o verdadeiro sacrário envolto pelo magma cristalizado, onde foi cravado o coração de Quixadá! Dali eu contemplava a arquitetura apoteótica, torrão de geografia celeste, paragem dos deuses, que aqui, também, escolheram habitar.

Esplêndido contemplar o novo berço do conhecimento, a matriz acadêmica
cearense, na qual o ensino superior, de forma inconteste, fez-se encampar. Oásis do sertão central, celeiro de abundância, musa dos acadêmicos, escritores, santos e doutores, princesinha do sertão, verdadeira inspiração cantada pelos poetas em prosa e verso, terra dos monólitos, pedra-mor, celeiro do progresso, majestosa acrópole sertaneja, cujo curral de pedras, em seu entorno serpenteia.

Com a visão privilegiada do cimo, avistei as estradas abertas – de terra,
asfalto e trilhos, como veias cortando a superfície do solo, ligando-se às regiões e ao País; até o aeroporto da cidade rogando ser povoado para diminuir distâncias e aquecer a economia. Admirava, também, os monólitos circulando a urbe, feito criança, em dias de ciranda matinal. Da janela esculpida, em plena rocha, eu contemplava o “ Chalé da Pedra ”; a “ Praça da Estação ” e o Monumento ali erguido, por “ Jacinto de Sousa ”, feito sentinela, pastoreando o patrimônio histórico, em plena ruina, na condição de pedinte, suplicando pelo que ainda restava da antiga “ Estação Ferroviária ”, de seu “ galpão ” e tantas outras edificações e símbolos sufocados, aniquilados e engolidos pelo descaso político e pela especulação
imobiliária.

Continuando com a saga exploratória, observei, com asco, a ausência de
bustos que historicamente foram entronizados nas praças públicas e perderam sua moradia; e com o furto e negligência dos dirigentes públicos – das duas ações, não consigo qualificar qual a pior! Deparei-me com a teratologia autofágica de dirigentes e proprietários de prédios e monumentos, que formavam e formam o patrimônio histórico de Quixadá, que agem na calada da noite fugindo dos olhos dos órgãos de fiscalização, controle, preservação e dos movimentos que lutam pela preservação do
patrimônio quixadaense – demolir às ocultas, deixando as portas da edificação e muros cerrados, tapeando a opinião pública, evitando intervenções indesejadas e liminares inesperadas, podendo barrar a ação e levar ao tombamento do equipamento. Muitas edificações foram ao chão, tornaram-se pó, restando aos verdadeiros proprietários, a população quixadaense, apenas a poeira vagante tangida pelos ventos e as desculpas sem sustentação. O lúgubre véu jogado sobre o patrimônio de Quixadá, precisa ser rasgado, e a tirania, dos que destroem e depredam nossa terra, denunciada. Acordem! Novos planos teratológicos estão a caminho e todos camuflados de boa nova e progresso para os munícipes, contudo só atendem aos próprios interesses dos lobos travestidos de cordeiros.

De forma diminuta, ainda pude ver bustos tingidos pelas excreções da
passarada e pelas intempéries do tempo, carecendo de zelo, respeito e de
reconhecimento, considerando o que estes vultos sagrados foram e representaram para esta terra nação; construções centenárias e seculares, antevendo seu futuro, dada sua condição de sobrevivente e resistente, em pleno abandono e ruína, diante do descaso a muito anunciado e denunciado; Quixadá sendo desnudada e perdendo suas vestes de paralelepípedos, capazes de resistir aos rigores do tempo por plumagem ilusória, que consegue maquiar a visão humana, mas que não resistirá às
vindouras chuvas torrenciais.

A majestosa “ Serra do Urucum ” e o “ Santuário Mariano ”, imponente obra
do visionário Bispo Diocesano “ Adélio Tomasin,” onde o céu e a terra se abraçam, rememorando, pela fé, a aliança celebrada entre Deus e os homens; o desenho arquitetônico, materializado pela engenharia humana, estendido pela vastidão do solo da urbe moderna, em que os campi acadêmicos elevam Quixadá à categoria de cidade universitária do Ceará; o “ Açude do Cedro ” e a “ Pedra da Galinha Choca ”, testemunhando que as arquiteturas, a natural, e a humana, podem compartilhar espaços, desde que a consciência política e social, não seja iníqua e corrompida; a “
Serra do Estevão ”, embrião da economia, fé, educação e progresso da região – o santuário ecológico do sertão central – nascente do Rio Sitiá e Riacho do Russinho, filhos com nascedouros afins e cursos separados, que seguem e tombam diante da devastação da fauna e flora, tornando moribundo, o que dantes gerava vida; agora, o Sitiá, serpenteia intoxicado pelos esgotos da urbe quixadaense, diante do silêncio do poder estatal, que assiste a tudo na inércia.

Quixadá, cenário vivo que imortalizou, outrora, a saga do cotidiano sertanejo, nas cenas do cangaço, do coronelismo político, dantes e de agora envelopados em novas roupagens – uma verdadeira maquiagem transformando o velho em novo e o novo em velho! Contos diversificados tornando-se registros da cíclica peleja, em que teu solo feito arena coloca, no mesmo ato, a vida, os amores e a morte impiedosa, que a muito tem irrigado teu solo com sangue, lágrimas e dessabores.

Torrão sofrido, cenário inspirador de autores e poetas precursores que
abriram caminhos por onde tua filha Rachel de Queiroz, com os demais
contemporâneos e conterrâneos, enveredou. Inspiração do cinema, do rádio, do jornal, da televisão, da arte escrita, do registro em fotos, talhas, lentes, viola, cordel e até em pincel; útero profícuo, que em letras gestou e pariu “ O Quinze, ” passarela de feitos cinematográficos, imortalizados a partir de “ A Morte Comanda o Cangaço, ” Curisco e Dadá ” e tantos mais… Roteiro perene que alimenta o papel, a tinta e o “ tec-tec ” da velha máquina de escrever, dando forma à imaginação do autor, sem, contudo, se descuidar do moderno, abraçando as novas tecnologias. Quixadá,
molde apoteótico, captado pelas lentes e revelado nas telas da arte, televisão e cinema.

Caatinga de teimosa esperança, por onde transitam, feito retirantes, os
remanescentes moradores da fauna cearense, parecendo famílias inteirinhas desesperadas, se embrenhando na mata pouca, fugindo do machado, da caça, da broca, das queimadas, do agrotóxico e da poluição; uma verdadeira saga dos últimos sobreviventes fugitivos, nas veredas errantes do sertão!

Filha devotada ao divino, o sacrário em que Deus, seu filho Jesus Cristo e os
pioneiros da urbe tornaram Jesus, Maria e José como seus padroeiros. Torrão nordestino, verdadeiro paradoxo, em que no verão os olhos, a lente e o pincel registram galhos secos, retorcidos, todos transformados em cenário, que remete à morte, à destruição e ao abandono, onde a vida, apesar de tudo, recebeu o alento do criador para teimar em viver.

Descampado que abre caminhos para o desfile frouxo do vento ligeiro, que
feito redemoinho, alimenta o corrupio em pleno desfile, debaixo do sol escaldante do pingo do meio dia. Mas, também, uma criatura de fé e obediente aos céus, bastando que ao final de dezembro, para pegar o início de janeiro, a um simples regar do jardineiro celeste, cortando os céus com raios e trovões, precipitem vida em direção à terra, desfiando as nuvens, que se transformam em chuva, consolidando um milagre único, capaz de revestir de verde e dotando de vida, o que outrora estava moribundo.

Manancial de toda diversidade, acolhimento dos estrangeiros. Recanto
encantado, terra hospitaleira, porto central, paragem de reconhecimento
intergaláctico, cenário que até os “ marcianos, ” nunca deixaram de visitar. Cidade-progresso, berço da cultura, da arte e da literatura, de nome Quixadá!

Quixadá, templo de insigne devotamento, a terra de altares e andores, dos
mártires e agricultores, operários, santos e doutores completa, hoje, 150 anos de emancipação política e eu ganhei a honraria de ser seu filho! Diante de ti, confesso meu maior prazer e recompensa, matrona amada: nascer, crescer e viver contigo; gozar em plenitude, usufruir, também, de tudo mais, que me darás, enquanto eu viver. E depois da morte, quem me dera, que eu seja acolhido e eternizado em teus braços abrigo!

Por fim, todas as invocações, predicados, louvores e proposições que a
sinédoque e a metonímia, chantaram culturalmente neste torrão, coube-me
sistematizar e propor aos munícipes, uma louvação a Quixadá. E tudo isso
testemunhado pelos gigantes monólitos, momentaneamente genuflexos, competindo à “ Pedra Faladeira, ” em forma de estribilho, responder comigo, os louvores que eu proclamar!

Do circuito visual, que a memória me presenteou, despertei trazendo comigo toda bagagem, colhida durante a viagem. Prostro-me em reverência proclamando ao mundo, neste momento único, os 150 anos de emancipação política de minha terra, a princesinha do sertão, cidade de Quixadá, o coração do Ceará.


Deixe um comentário

Por favor, poste seus comentários

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Seja o primeiro a comentar