21 out, 2020 | Antonio Martins | Sem comentários

149 anos de Emancipação Política da Princesinha do Sertão, cidade de Quixadá, coração do Ceará

Fotografo Antonio Castelo-Pontos-Turístico-Quixadá

Amanheci repleto de um saudosismo invejável!

Parei por instantes diante do calendário. A organização cronológica arcava o dia de hoje, como sendo, 27 de outubro de 2019. De pronto, a memória me socorreu, era o aniversário de meu berço natal. De súbito, reagi introspectivamente, feito filho diante da matriarca, proferindo.

Terra que nasci de tuas entranhas, nutri-me de teus frutos, cresci em teus
terreiros, vivo para te contemplar. A ti serei sempre fiel, seja como servo, filho devotado ou herdeiro, de teu amor incondicional. Arquitetura apoteótica, torrão de geografia celeste, paragem dos deuses, que aqui escolheram habitar.

Esplêndido, ser rebento dessa terra amada, quinhão celeste, o meu
nascedouro, berço do conhecimento, a nova matriz acadêmica cearense, onde o ensino superior, de forma inconteste, fez-se encampar. Oásis do sertão central, celeiro de abundância, musa dos acadêmicos, escritores, santos e doutores, princesinha do sertão, verdadeira inspiração, cantada pelos poetas em prosa e verso, terra dos monólitos, pedra-mor, seleiro do progresso, majestosa acrópole sertaneja, cujo curral de pedras, em seu entorno serpenteia.

Peguei-me em uma retrospectiva da última visita, que fizera à “ Pedra do
Cruzeiro ”. E prostrando-me diante da cruz, ali chantada, era como se a máquina do tempo, descortinasse diante de meus olhos, a grandeza da terra que me pariu. E eu me deixei levar, na saga matutina. Chegando ao cume, daquela manjedoura de vultos heroicos e históricos, natos ou naturalizados, no topo daquele magma cristalizado, feito coração cravado no centro de Quixadá, senti-me pleno!

Sentado em seu cimo, avistei as estradas abertas – de terra, asfalto e trilhos,
como veias cortando a superfície do solo, ligando-se às regiões e ao País; até o aeroporto da cidade, rogando ser povoado, para diminuir distâncias e aquecer a economia. E com a visão privilegiada de um ângulo completo, eu admirava os monólitos circulando a urbe, feito criança, em dias de ciranda matinal. Da janela esculpida, em plena rocha, eu contemplava o “ Chalé da Pedra ”; a “ Praça da Estação ” e o Monumento ali erguido, por “ Jacinto de Sousa ”, feito sentinela, pastoreando o patrimônio histórico, em plena ruina, na condição de pedinte, suplicando pelo que ainda restava da antiga “ Estação Ferroviária ”, de seu “ galpão ” e tantas outras edificações e símbolos, sufocados, aniquilados e engolidos pelo descaso político e pela especulação imobiliária.

Parei por instante, mas logo retornei, para continuar com a saga exploratória, foi quando observei, com asco, os bustos entronizados nas praças públicas, tingidos pelas excreções da passarada e pelas intempéries do tempo, carecendo de zelo, respeito e de reconhecimento, considerando o que estes vultos sagrados foram e representaram, para esta terra nação; construções centenárias e seculares, antevendo seu futuro, dada sua condição de sobrevivente e resistente, em pleno abandono e ruína, diante do descaso a muito anunciado e denunciado; a “ Serra do Urucum ” e o “ Santuário Mariano ”, majestosa obra do visionário Bispo Diocesano Adélio Tomasin, onde o céu e a terra se abraçam, rememorando pela fé, a aliança celebrada entre Deus e os homens; o desenho arquitetônico, materializado pela engenharia humana, estendido pela vastidão do solo da urbe moderna, em que os campi acadêmicos, elevam Quixadá à categoria de cidade universitária do Ceará; o “ Açude do Cedro ” e a “ Pedra da Galinha Choca ”, testemunhando que arquitetura natural, e a humana, podem compartilhar espaços, desde que a consciência política e social, não seja iníqua e corrompida; a “ Serra do Estevão ”, embrião da economia, fé, educação e progresso da região – o santuário ecológico do sertão central – nascente do Rio Sitiá, cujas margens tombam, diante da devastação da fauna e flora, tornando moribundo, o que dantes gerava vida, agora intoxicado pelos esgotos da urbe quixadaense, diante do silêncio do poder estatal, que assiste a tudo na inércia.

Quixadá, cenário vivo que protagonizou, outrora, a saga do cotidiano sertanejo, nas cenas do cangaço, do coronelismo político, dantes e de agora envelopados em novas roupagens. Contos diversificados, tornando-se registros da cíclica peleja, em que teu solo feito arena, coloca no mesmo ato a vida, os amores e a morte impiedosa, que a muito tem irrigado teu solo com sangue, lágrimas e dessabores.

Torrão sofrido, cenário inspirador de autores e poetas precursores, que abriram caminhos por onde tua filha Rachel de Queiroz, com os demais contemporâneos e conterrâneos enveredaram. Inspiração do cinema, do rádio, do jornal, da televisão, da arte escrita, do registro em fotos, talhas, lentes, viola, cordel e até em pincel; útero profícuo, que em letras gestou e pariu “ O Quinze ”, passarela de feitos cinematográficos, imortalizados a partir de “ A Morte Comanda o Cangaço ”, “ Curisco e Dadá ” e tantos mais… Roteiro perene que alimenta o papel, a tinta e o “ tec-tec ” da velha máquina de escrever, dando forma à imaginação do autor, sem, contudo, se descuidar do moderno, abraçando as novas tecnologias. Quixadá, molde apoteótico, captado pelas lentes e revelado nas telas da arte, televisão e cinema.

Caatinga de teimosa esperança, por onde transitam feito retirantes, os
remanescentes moradores da fauna cearense, parecendo famílias inteirinhas desesperadas, se embrenhando na mata pouca, fugindo do machado, da caça, da broca, das queimadas, do agrotóxico e da poluição; uma verdadeira saga dos últimos sobreviventes fugitivos, nas veredas errantes do sertão!

Filha devotada ao divino, o sacrário em que Deus, seu filho Jesus Cristo e os
pioneiros da urbe tornaram Jesus, Maria e José como seus padroeiros. Torrão nordestino, verdadeiro paradoxo, em que no verão os olhos, a lente e o pincel registram galhos secos, retorcidos, todos transformados em cenário, que remete à morte, à destruição e ao abandono.

Descampado que abre caminhos, para o desfile frouxo do vento ligeiro, que
feito redemoinho, alimenta o corrupio em pleno desfile, debaixo do sol escaldante do pingo do meio dia. Mas, também, uma criatura de fé e obediente aos céus, bastando que ao final de dezembro, para pegar o início de janeiro, a um simples regar do jardineiro celeste, cortando os céus com raios e trovões, precipitem vida em direção à terra, desfiando as nuvens, que se transformam em chuva, consolidando um milagre único, capaz de revestir de verde e dotando de vida, o que outrora estava moribundo.

Manancial de toda diversidade, acolhimento dos estrangeiros. Recanto
encantado, terra hospitaleira, porto central, paragem de reconhecimento intergaláctico, cenário que até os “ marcianos ”, nunca deixaram de visitar. Cidade-progresso, berço da cultura, da arte e da literatura, de nome Quixadá.

Quixadá, templo de insigne devotamento, terra de altares e andores, dos
mártires, agricultores, operários, santos e doutores completa, hoje, 149 anos de emancipação política e eu ganhei o presente. A honraria de ser filho teu! Diante de ti confesso meu maior prazer e recompensa, matrona amada: nascer, crescer e viver contigo; gozar em plenitude, usufruir, também, de tudo mais, que me darás, enquanto eu viver. E depois da morte, quem me dera, que eu seja acolhido e eternizado em teus braços abrigo.

Por fim, todas as invocações, predicados, louvores e proposições, que a
sinédoque e a metonímia, chantaram culturalmente neste torrão, coube-me
sistematizar e propor aos munícipes, “ a ladainha de Quixadá ”. E tudo isso foi testemunhado pelos gigantes monólitos, momentaneamente genuflexos, competindo à “ Pedra Faladeira ”, em forma de estribilho, responder comigo, à ladainha – feito gradação – que eu acabara de rezar.

Despertei, trazendo comigo toda bagagem colhida durante a viagem, não fora sonho, fora realidade mesmo! Prostrei-me em reverência proclamando ao mundo, neste momento único, os 149 anos de emancipação política de minha terra, a princesinha do sertão, cidade de Quixadá, coração do Ceará.


Prof.: ANTÔNIO MARTINS de Almeida Filho. Imortal da
Academia Quixadaense de Letras - AQL - Cadeira 28.
Poema comemorativo dos sete anos de fundação da
Academia Quixadaense de Letras – AQL.

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